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Fim do home office: com que roupa eu vou?

Foto: Alain Jocard / AFP

Há cinco anos, a vida mudou literalmente da noite para o dia. O vírus Sars-Cov-2, que rapidamente se espalhou na China e parecia muito distante do Brasil, chegou por aqui no pós-carnaval e fez uma reviravolta na vida pessoal e profissional de todos nós. Empresas que jamais pensaram em oferecer home office a seus funcionários tiveram de se adaptar de uma hora para outra. Ternos, vestidos, camisas sociais e sapatos foram substituídos pelo conforto de roupas de ficar em casa, pantufas, pés descalços. Valia estar só com a parte de cima mais arrumada para uma reunião com câmera aberta. E não foram poucas as gafes e situações embaraçosas ocorridas durante os infindáveis encontros via Zoom, Meet, Teams.

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A mudança parecia ter vindo para ficar. Volta integral ao escritório era algo quase impossível no cenário pós-Covid. Mas tudo sempre pode mudar. E cada vez mais empresas em todo o mundo têm voltado à rotina pré-pandêmica, exigindo a presença cada vez mais frequente ou até mesmo diária no escritório. Grandes corporações globais, como a Amazon, exigiram o retorno dos funcionários em regime totalmente presencial no ano passado. A filial brasileira da gigante do varejo online passou a seguir a mesma determinação neste mês, embora não descarte a adequação, caso a caso, de alguns funcionários em home office.

E esse movimento não se resume a empresas privadas. A Petrobras anunciou em janeiro passado que o trabalho presencial passaria de dois para três dias, desde o último dia 10 de março, para aqueles com funções como consultores e, a partir de 7 de abril, para empregados sem função gratificada. Os gerentes já atuam presencialmente ao menos três vezes por semana desde setembro de 2024. A Federação Única dos Petroleiros se opõe à mudança e decidiu convocar os empregados da Petrobras para uma greve de advertência de 24 horas no próximo dia 26, em defesa do teletrabalho e de outras melhorias. A paralisação será submetida à aprovação da categoria em assembleias até o dia 23, segundo a FUP, que representa 12 sindicatos de petroleiros pelo Brasil.

E no vale-tudo para fazer os profissionais saírem do conforto de casa, o tom tem pesado e as cobranças também. A volta ao presencial tem deixado de ser uma recomendação para se tornar uma obrigação. Nos Estados Unidos, a Deloitte anunciou em e-mail enviado a seus funcionários da área fiscal neste mês que vai considerar a frequência no escritório como parte da avaliação de desempenho, usada como parte da definição do pagamento de bônus. Várias empresas estão cobrando a volta do modelo presencial e algumas já usam a presença no escritório como métrica de desempenho.

Mas depois de anos trabalhando em casa com roupas confortáveis, longe de terninhos e sapatos apertados, como se vestir para voltar ao escritório? Afinal, conforto é um caminho sem volta, afirma ao Meio o consultor de estilo masculino André do Val, fazendo menção a uma frase de Costanza Pascolato, ícone da moda. “O guarda-roupa mudou por conta da pandemia. Ninguém mais quer voltar a trabalhar de terno e gravata. Para o dia a dia, apesar de ser muito prático como uniforme, não é o que as pessoas têm usado. Na Faria Lima, que era o último reduto dos financeiros, é calça casual, camisa branca, coletinho e tênis de corrida, não é nem sapatênis, é o mais leve mesmo. É a funcionalidade que aparece muito mais. E faz mais sentido”, diz André que treina executivos de grandes corporações sobre marca pessoal, estilo, comunicação e liderança.

O retorno ao escritório apareceu também nas passarelas da Semana de Moda de Paris, com o vestuário corporativo guiando a apresentação de vários estilistas. Stella McCartney, por exemplo, apostou na estética da mulher que trabalha. O desfile aconteceu em um ambiente de escritório em espaço aberto, repleto de canecas e artigos de papelaria. As modelos caminhavam ao ritmo de Work It, da canadense Marie Davidson, vestindo jaquetas largas a la anos 80, saias lápis reinventadas com bolsos adicionais, casacos grandes com cintura baixa e tote bags, com espaço para um laptop. A Balenciaga também apresentou suas versões de alfaiataria, abrindo a passarela com ternos finos e simples — alguns vincados à mão, outros desgastados. Nos bastidores, o diretor criativo Demna descreveu a coleção como uma exploração de padrões, particularmente em trajes de negócios.

O tema trabalho já esteve nas passarelas em outros momentos, lembra André, mas desta vez se destacou o fato de vários nomes da moda se concentrarem nesse mesmo assunto, refletindo o movimento de volta ao escritório que se evidencia no mundo do trabalho. “Moda é produto, é comercial. É uma arte aplicada. Se não refletir a realidade, não está cumprindo seu propósito. E faz sentido agora a questão do home office, da jornada de trabalho. Outras pessoas já abordaram isso em outros momentos, mas a moda acontece em ondas. E o que faz dinheiro é essa conexão, é sair da bolha”, diz o consultor.

Como outro exemplo de transformação no vestuário profissional, André ressalta que a dupla terno e gravata, que já foi símbolo de status, hoje acaba sendo mais usada como uniforme por trabalhadores que estão na parte mais baixa da pirâmide social. Aqueles que estão no topo da pirâmide se vestem de forma mais casual. “Há um cruzamento de esporte com alfaitaria. É o tênis com terno, uma mudança para o conforto, o natural”, diz.

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