Lá vai Emma Stone sofrer na mão de Yorgos Lanthimos de novo

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É sempre possível argumentar que humanidade não está entre as características marcantes de uma parcela dos CEOs de megacorporações, mas, em Bugonia, destaque nas estreias desta quinta-feira, Yorgos Lanthimos trata essa questão de uma forma um tanto literal. E quem sofre é sua musa Emma Stone, com quem ele fez A Favorita, o brilhante Pobres Criaturas e o controvertido Tipos de Gentileza. Emma vive Michelle Fuller, poderosa e egocêntrica CEO de uma indústria farmacêutica. Um dia, ao chegar em sua mansão, ela é atacada por dois homens mascarados e perde os sentidos. Acorda acorrentada em um porão com a cabeça raspada e em poder do apicultor Teddy (Jesse Plemons) e seu primo Dom (Aidan Delbis), dois típicos esquecidos pelo “sonho americano”. Mas o que poderia ser uma história de luta de classes à la Parasita ganha ares surreais, bem ao estilo de Lanthimos, quando se descobre o motivo do sequestro: Teddy, ávido consumidor de teorias conspiratórias, acredita que Michelle é a alienígena que planeja destruir a Humanidade — os cabelos foram raspados para evitar que ela os usasse para se comunicar com sua “nave-mãe”. Caberá à refém usar seus talentos empresariais de CEO para tentar se livrar da situação. Mas será que os sequestradores estão realmente errados?
Não fosse o filme de Lanthimos, o destaque de hoje seria uma boa sequência de longas brasileiros, a começar por A Natureza das Coisas Invisíveis, drama de Rafaela Camelo que vem colecionando prêmios. Duas meninas — Glória, filha de uma enfermeira, e Sofia, bisneta de uma paciente — se conhecem em um hospital durante as férias e, do tédio, formam um laço de amizade que as ajuda a enfrentar as próprias inseguranças. Glória, que passou por um transplante de coração, não sabe se os novos sentimentos que vem experimentando são a adolescência que se aproxima ou algo que veio com o órgão doado. Sofia testemunha a deterioração da bisavó e acredita que a internação só piora o quadro.
Ao mesmo tempo brasileiro e universal, Quase Deserto, de José Eduardo Belmonte, se passa em Detroit, nos Estados Unidos, durante a pandemia de covid-19 e lida o tempo todo com a posição do estrangeiro/estranho. A história gira em torno do brasileiro Luís (Vinicius de Oliveira), imigrante ilegal em processo de regularização que tenta “fazer a América”; Benjamin (Daniel Hendler), um jornalista argentino que precisou fugir de seu país após denúncias políticas; e Ava (Angela Sarafyan, de WestWorld e Superman), uma jovem americana dentro do espectro autista. O trio testemunha um assassinato, e os dois precisam proteger a moça e eles mesmos, enquanto encaram uma sociedade cada vez mais paranoica e desumanizada.
Baseado no livro de Daniel Galera, Barba Ensopada de Sangue, de Aly Muritiba, também tem a resistência ao outro como pano de fundo. No caso a resistência ao personagem principal, vivido por Gabriel Leone, que busca refúgio numa vila de pescadores no litoral de Santa Catarina de onde seu avô desapareceu em circunstâncias violentas muito antes de ele nascer. Ninguém o quer ali — na verdade, nem ele mesmo —, mas ele simplesmente está lá, ouvindo as histórias que cada pessoa tem para contar e incapaz de encontrar as respostas que aparentemente busca.
Também baseado em um livro, neste caso de Ariana Harwickz, Morra, Amor, de Lynne Ramsay, serve de veículo para o talento de Jennifer Lawrence, que brilha como Grace, uma mulher com transtorno bipolar e aparentemente depressão pós-parto isolada numa casa no interior dos Estados Unidos. A ausência a trabalho do marido Jackson, interpretado com a garra de sempre por Robert Pattinson (todos nós já o perdoamos por Crepúsculo), e sua constante infidelidade só agravam o estado mental de Grace — o esfriamento da vida sexual do casal é ponto dominante na história. Ela pretende escrever um livro nos raros momentos em que o filho dorme, mas isso parece mais um delírio que uma vontade real. E, para completar, há a presença opressiva da mãe de Pam, mãe de Jackson, vivida pela grande Sissy Spacek. Não é para quem busca uma diversão leve, mas é um senhor filme.
Igualmente intenso e agravado por ser um documentário é Guarde o Coração na Palma da Mão e Caminhe, da cineasta iraniana Sepideh Farsi. O longa é composto basicamente por conversas em vídeo dela com a fotojornalista palestina Fatem Hassona, que estava na Faixa de Gaza. Impedida de chegar ao território pelo bloqueio israelense, Farsi usa Hassona como seus olhos e ouvidos em meio à destruição da guerra. Os diálogos cada vez mais próximos entre elas vão, porém, ser interrompidos quando Fatem (perdoem o spoiler) se torna mais uma entre os cerca de 200 profissionais de imprensa mortos nos ataques das forças de Israel.
Dirigido por Giulia Louise Steigerwalt, o italiano Diva Futura, retrata, pela ótica da secretária Debora (Barbara Ronchi), a transformação da agência de talentos que dá nome ao filme em uma referência da indústria da pornografia, sob o comando de Riccardo Schicchi (Pietro Castellitto). O rebuliço cultural e erótico que as produções da agência provocam mexe com a Itália a ponto de uma de suas maiores estrelas, a húngara naturalizada italiana Ilona “Ciccionlina” Staller (Lidija Kordic), ser eleita para o Parlamento com uma plataforma baseada na liberdade sexual. Mas quanto dessa liberdade se reflete de fato na vida prosaica de Debora?
Falando em vida prosaica, a personagem de Miá Mello, protagonista da comédia Mãe Fora da Caixa, de Manuh Fontes, abusa da ingenuidade ao imaginar que sua rotina de profissional empoderada vai passar incólume pela chegada da primeira filha. Baseada no livro de Thaís Poeta, o filme brinca com a ilusão de controle e com as reviravoltas que a pequena traz para a vida de Malu (Miá) e seu marido.
E para a garotada há Zootopia 2, onde os policiais Judy Hopps (uma lebre) e Nick Wilde (uma raposa) precisam desvendar um mistério envolvendo a chegada à cidade dos animais do aparente vilão, a víbora Gary De’Snake.
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